![]() |
Takuan |
(...)
O monge zen Takuan (1573-1645), confidente de Yagyū Munenori
(1571-1646), mestre de armas da casa de Tokugawa, escreveu num breve
tratado, A Verdadeira e Prodigiosa Espada de Tai-a:
A
arte da espada consiste em nunca se preocupar com a vitória ou com a
derrota , com a força ou com a fraqueza, com o dar um passo à frente ou
um passo atrás, com o fato de o inimigo não me ver e de eu não ver o
inimigo. Compreendendo o que é fundamental diante da separação do céu e
da terra, onde nem mesmo yin e yang podem chegar, alcança-se
instantaneamente a proficiência na arte.
Tai-a é
uma espada mística que dá vida a todas as coisas, tanto ao próprio ser
como ao outro, ao protagonista e ao antagonista, ao amigo e ao inimigo.
O
mesmo Yagyū Munenori salienta que a superação do egoísmo através da
autodisciplina na arte da espada. Num tratado conhecido como A Transmissão Familiar na Arte de Lutar, ele descreve que o
objetivo do treinamento nas artes marciais é superar seis tipos de
males: o desejo de vencer, o desejo de confiar na destreza técnica, o
desejo de exibir-se, o desejo de abater psicologicamente o adversário, o
desejo de permanecer passivo esperando uma abertura e o desejo de
livrar-se desses males.
Em
última instância, a maestria física, psicológica e espiritual são uma
só e mesma coisa. O eu desprovido de egoísmo é aberto, flexível,
adaptável, fluido e dinâmico em corpo, mente e espírito. Desprovido de
egoísmo, o eu se identifica com todas as coisas e pessoas, vendo-as a
partir de uma perspectiva não centrada em si mesmo, mas a partir dos
seus respectivos centros. Num círculo de contorno sem limites cada ponto
se torna o centro do Universo. A habilidade de ver toda a existência a
partir de uma perspectiva não-centrada em si mesmo é central na
identidade Shintō com a natureza e também constitui o que o budismo
chama sabedoria, que em sua expressão máxima não é outra coisa senão a
compaixão.
Este
modo de pensar é a essência de todos os caminhos marciais e culturais
da tradição japonesa. O Aikidō é uma formulação moderna dessa essência,
aperfeiçoada pelo gênio do Mestre Morihei Ueshiba (1883-1969). (...)
(Fonte:
Ueshiba, Kisshōmaru. O Espírito do Aikidō. São Paulo: Cultrix; 1984.
pg.12-13. Kisshōmaru Ueshiba, O Dōshu do Aikido, terceiro filho de
Morihei Ueshiba, o fundador do Aikidō, nasceu em 1921.)
Nenhum comentário:
Postar um comentário